Sustentabilidade
Tragédia
em Mariana
O rio Amargo que corre para
o mar
Rio Doce poderá
levar décadas para se recuperar, mas forças poderosas se unem para minimizar o
papel da Samarco na tragédia em Mariana (MG)
No dia 6 de novembro uma
represa de dejetos de mineração se rompeu em Bento Rodrigues, na cidade de
Mariana. Seis mortos, 21 desaparecidos, centenas de casas destruídas e quase
uma semana depois nenhuma autoridade de primeiro escalão do Governo Federal se
pronunciou a respeito.
A assessoria do Ministério do Meio Ambiente disse que a ministra
Izabella Teixeira, está esperando relatórios do presidente da Agência Nacional
de Água, Vicente Andreu Guillo e da presidente do Ibama, Marilene Ramos que
viajam nesta quarta-feira para a região. Do Palácio do Planalto nenhum ruído,
nem para anunciar um possível apoio do Programa Minha Casa Minha Vida aos
desabrigados, ou coisa semelhante.
A empresa responsável pelo desastre é a Samarco, uma joint venture
entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, que veio a público com os
protocolares discursos sobre as medidas que prevenção que são tomadas, mas que
há sempre elementos de imprevisibilidade, que está apoiando os desabrigados etc,
etc... Tudo o que uma boa assessoria de comunicação em gestão de crises manda
fazer.
O jornalista Alceu Luís Castilho, em
seu blogno
site Outras Palavras,
fez uma lista de
quem são os controladores das empresas envolvidas,
uma parte importante do PIB brasileiro e mundial. Talvez por isso, em tempos de
crise econômica, se está esquecendo a amplitude política desse desastre que
atravessou parte de Minas, todo o Espírito Santo e vai desembocar no Oceano
Atlântico.
O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais,
Altamir Rôso, disse que a empresa “também é uma vítima” e acrescentou em
entrevista ao site mineiro Hoje em Dia que “fiscalizar esse tipo de empreendimento
não deveria ser função do Estado, que isso poderia ser passado para a
iniciativa privada”. Declaração tão surpreendente quanto o fato de o governador
Fernando Pimentel ter utilizado uma instalação da Samarco para montar uma
coletiva de imprensa.
Outro elemento dessa ópera bufa que está tornando amargo o rio Doce, já
expurgado da razão social da Vale, é a preocupação do prefeito de Mariana,
Duarte Júnior, que no último dia 9 já demonstrava preocupação em relação ao
futuro da empresa em sua cidade, já que a mineração responderia por 80% da
arrecadação do município.
Do ponto de vista técnico, não há dúvidas sobre o imenso trabalho que
está sendo realizado pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e pelas equipes de
Defesa Civil, além de voluntários de toda ordem, que oferecem trabalho e
donativos. Mas o que está em questão é a atitude (ou falta dela) política.
Nessa hora os principais atores do Governo Federal, diga-se a presidente Dilma,
já deveriam estar na região e mobilizando esforços para apoiar a sociedade. A
empresa, ora a empresa, essa que se vire com os técnicos e com o Ministério
Público.
O governo acionou seus canais burocráticos enquanto a população de Bento
Rodrigues sangra.
No final tudo se esvai no esquecimento, inclusive que está em tramitação
no Congresso Federal o novo Código de Mineração, PL 5807/2013, que dá à união
12% dos royalties do setor, 23% aos governos estaduais e 65% do dinheiro aos
municípios. Como já dizia um famoso delator: “siga o dinheiro”.
PEIXES MORTOS NO LEITO
DO RIO DOCE: MORADORES E PESCADORES RELATAM CENÁRIO DE HORROR AO LONGO DO SEU
CURSO (FOTO: ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES E AMIGOS DO RIO DOCE)
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