Fila brasileiro
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Fila brasileiro é uma raça de cão de grande a gigante porte desenvolvida no Brasil, e a
primeira raça brasileira a ser reconhecida internacionalmente. O fila brasileiro é utilizado como cão de guarda.
A origem deste canino está
atrelada à colonização do país, quando os europeus trouxeram para cá os seus
cães de trabalho.
De vários cruzamentos entre
raças do tipo molosso,
surgiu um cão que herdou a grande e forte estrutura óssea dos mastiffs ingleses, a
pele solta e as orelhas baixas dos bloodhounds (que é considerada por muitos hoje
como falta grave e não muito funcional) e a resistência dos buldogues (raça
que foi popular em sua nação de origem, chegou a ser a raça mais registrada
pela confederação nacional. O fila brasileiro é ainda considerado um
personagem anônimo da História do Brasil desde os tempos do descobrimento, quando
ajudou os colonizadores na conquista do território, protegendo as comitivas dos Bandeirantes de ataques de nativos e onças ou suçuaranas; e até
mesmo sendo usado pelos colonizadores para recapturar escravos fugitivos.
Robusto, é descrito como
animal de faro excelente, bem como de temperamento forte, que requer o pulso de
donos firmes e experientes. De aparência facial agressiva, teve o seu inicial
padrão modificado para mostrar um rosto "menos violento". Em
contrapartida, é visto como um canino tolerante com crianças, comportado e
seguro.
História
Primeira raça brasileira a ser
reconhecida internacionalmente pela FCI, em 1940 o fila
brasileiro é um personagem anônimo da História do Brasil desde os
tempos do descobrimento, quando ajudou os colonizadores na conquista do
território brasileiro, seja protegendo as comitivas dos Bandeirantes de ataques de nativos e de onças ou suçuaranas, e até mesmo foi usado pelos
colonizadores para recapturar escravos fugitivos.
Historicamente, os
filas sempre estiveram presentes em todas as regiões do território brasileiro,
mas a rota dos tropeiros, levando
mercadorias do interior do território para o litoral, influenciou entre outras
coisas a maior presença desta raça em determinadas regiões, porque os tropeiros
sempre tinham suas comitivas protegidas por filas, com isto sua incidência
sempre foi maior nas regiões centro-oeste e sudeste, principalmente em Minas Gerais.[3] e em Mato Grosso, mas algumas gravuras do início
do século XIX, apresentadas pelo
príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied, atestam que
esta raça já estava presente no nordeste brasileiro desde esta
época,[4] uma mostra vaqueiros vestidos
com chapéus e roupas de couro, característicos desta região, que estão
perseguindo um boi e auxiliados por um fila, chamados na época de cabeçudos,
onceiros ou boiadeiros, em outra gravura, o príncipe relata o fato no sul
da Bahia, onde segundo ele, quatro cães de
orelhas cortadas, com grande porte e formato corporal retangular,
características do fila, estão acuando uma onça em cima de uma árvore.
O fila brasileiro teve seu apogeu nas
décadas de 1970 e 1980, quando era uma das raças com maior
número de registros. Nesta mesma época, criadores tentaram mudar o padrão
oficial da raça para abrandar o temperamento agressivo que, de certa forma, era
exaltado no padrão anterior. Uma escolha que hoje em dia é polêmica, alguns
criadores acreditam que o fila é um cão necessariamente com ojeriza a estranhos,
mas muito dócil com a família e crianças, outros também concordam que ele é
muito dócil com a família e crianças, mas preferem um temperamento de guarda
mas brando, onde o cão não aceitaria uma invasão territorial, mas aceitaria uma
visita acompanhada de seu dono. O fato é que nesta época a palavra ojeriza foi
substituída por aversão, mantendo o mesmo significado na expressão "possui
aversão a estranhos" em seu padrão oficial.
O fila brasileiro é conhecido pela
fidelidade e devoção extremas ao dono, características que criaram um provérbio
brasileiro secular que diz, "fiel como um fila", tais características
comportamentais foram apreciadas durante os séculos de desenvolvimento da raça,
o que ajudou a popularizá-la.
Origem
Muito se fala sobre as raças que
deram origem ao fila brasileiro, mas a intervenção do homem no aperfeiçoamento
da raça dividiu igual importância com a seleção genética natural a que estes
cães foram submetidos devido as árduas condições encontradas pelos primeiros
filas brasileiros em nossa história. Eles desempenhavam as mais variadas
funções junto aos colonizadores, como guarda, caça, proteção contra animais
selvagens, pastoreio de bovinos, faro para localizar e capturar
escravos fugitivos, e até cão de guerra, nos ataques a tribos nativas e posteriormente a quilombos. Mas o "Grande Livro do Fila
Brasileiro" nos dá algumas hipóteses mais prováveis do surgimento desta
raça, e devido a haverem tantas versões de seu surgimento, mas nenhuma
cabalmente comprovada, o padrão oficial da raça omite qualquer versão histórica
para o surgimento da raça, por não haver consenso entre os criadores sobre qual
versão é a verdadeira.
1ª - Mastiff - Cão de Santo Humberto (bloodhound) - Antigo Buldogue
Inglês
A teoria mais antiga e
difundida sobre sua origem, é a que reconhece que o fila brasileiro é descendente
de cães trazidos ao Brasil durante todo o período de colonização
portuguesa, nesta época muitos cães foram trazidos pelos colonos ao Brasil,
raças de cães que eram comuns em toda a Europa ocidental no período do Brasil colônia. Quando da vinda de Dom João VI ao Brasil, muitos cães da raça mastiff, que já haviam sido trazidos ao Brasil, desta vez teriam vindo em massa
junto com a classe média portuguesa da época, deste cão teria herdado o grande
porte e a aptidão nata para a guarda, já do cão de Santo
Humberto, lhe foi transmitido o
excelente faro e do antigo
buldogue inglês (raça já
extinta), herdou a agressividade, a aptidão para o combate (caça) a grandes
animais, o talento para o trabalho com o gado e a insensibilidade a dor acima
da média canina. Os filhotes de cães que reuniam todas estas característica fazendeiros e peões e com isto a raça se popularizou e rapidamente
se espalhou pelo país.
2ª - Engelsen Doggen ou Dogue de Fort Race
A segunda teoria mais aceita, e com
mais base bibliográfica, diz que a partir de 1631, em Pernambuco, por ocasião
da invasão neerlandesa ao Brasil, os neerlandeses teriam
trazido cerca de trezentos cães para ajudar a proteger as novas terras
conquistadas dos portugueses e para realizar incursões contra a resistência dos
indígenas liderados por Felipe Camarão, e para se
protegerem de onças nestas incursões. Estes cães seriam de uma raça inglesa já
extinta, o engelsen
doggen, também chamados de dogue de fort race, estes cães
rapidamente se espalharam pelo nordeste, acompanhando as tropas neerlandesas.
Posteriormente, já após a expulsão dos neerlandeses, ao longo dos anos, os
descendentes dos primeiros dogues de fort race trazidos ao Brasil, teriam sido
submetidos a um aprimoramento genético devido ao novo clima, alimentação, as
novas atribuições recebidas no Brasil, como a caça, o pastoreio de bovinos e a
perseguição a escravos, então aquela raça que chegou ao Brasil com os
neerlandeses teria evoluído através da seleção genética natural, e com isto
surgia uma nova raça, o fila brasileiro. Estes cães teriam posteriormente
chegado até Minas Gerais através da colonização às margens do rio São Francisco, em Minas Gerais foram muito apreciados devido a
sua aptidão para o trabalho com o gado, este estado da federação brasileira
teve forte vocação para criação de gado leiteiro, e os filas eram usados para
pastorear e proteger o rebanho de onças e ladrões de gado, devido as suas
qualidades foram difundidos em Minas Gerais, e conservaram seu grande porte e
musculatura graças a alimentação com leite e angu de milho, que era farta na
região, e com o escoamento da produção mineira sendo feito pelos tropeiros, que
levavam estes cães em suas comitivas para proteção e ajuda para conduzir o
gado, a raça se espalhou pelo país.
Por descendência genética, esta
teoria também explicaria a cor preta nos filas brasileiros, já que sabidamente
o dogue de fort race tinha entre outras, a cor preta sólida, muito contestada
por alguns criadores de filas brasileiros por ser inexistente nos mastiffs,
cães de Santo Humberto e antigos buldogues ingleses, ascendentes do fila
brasileiro segundo a versão histórica mais difundida, e inclusive também faz
cair por terra a teoria que tornou décadas atrás o fila brasileiro de cor
malhada como impuro, segundo seu padrão oficial, já que como podemos ver na
ilustração ao lado, feita por De Sève no século XVIII, o dogue de fort
race também tinha exemplares malhados, assim como os inteiramente brancos, que
normalmente nasciam em ninhadas geradas por filas malhados.
3ª - Fila de Terceira.
Esta teoria diz que os filas
brasileiros são descendentes de seu homônimo fila de terceira ou
terceirense, uma raça de buldogue trazida dos Açores pelos colonos
portugueses, teriam sido trazidos em massa porque os colonos precisavam de um
cão para ajudar nas lides rurais, e esta raça já era usada com sucesso no
pastoreio bovino na Ilha Terceira, esta migração em
massa ocasionou a extinção desta raça em Portugal, e devido a
seleção genética, feita por ocasião de novo clima e atribuições diferentes que
tinham em Portugal, como por exemplo a caça a onças, índios e escravos
fugitivos, foi formada uma nova raça em território brasileiro, o fila
brasileiro, que teria herdado além do primeiro nome de seu ancestral, também o
instinto de cão boiadeiro.
4ª - Mastiff - Perdigueiro Brasileiro.
Outra teoria bem menos
difundida, e também relatada no livro, diz que o fila brasileiro se formou com cruzamentos
ocasionais de mastiffs
ingleses trazidos na
época da colonização portuguesa com cães do tipo perdigueiro encontrados em
todo o Brasil, mas especificamente o perdigueiro brasileiro, raça com forte
instinto de caça e faro, com isto manteve o temperamento para a guarda do
mastiff e ganhava a aptidão para a caça do perdigueiro
brasileiro.
A mistura destas raças geraria
excelentes cães de caça e com forte instinto de guarda, o que levou a
popularização desta mistura de raças e do perpetuamento do sangue de seus
descendentes, nascia aí o fila brasileiro.
5ª - Raças Européias - Aracambé - Guará
Outra hipótese mais remota diz que o
fila brasileiro seria resultado de cruzamentos ocasionais entre as raças de
cães europeias citadas anteriormente, o mastiff, o cão de Santo Humberto, o
antigo buldogue inglês, o engelsen doggen, também chamado de dogue de fort race
e o fila de terceira ou terceirense, que foram trazidas ao Brasil pelos
colonizadores portugueses e neerlandeses, e seus descendentes teriam cruzado
com canídeos encontrados no Brasil, especificamente o lobo-guará e também com
outra raça canina brasileira, o cão aracambé, na época do
Brasil-colônia, este cão era muito comum entre os indígenas da tribo tapuia, estes
acasalamentos teriam ocorrido de maneira ocasional e com influência da região,
clima, alimentação e atribuições que recebiam dos colonos, e ao longo dos
séculos esta mistura de raças perdida com o tempo teria gerado o fila
brasileiro.
Porém é pouco provável que o
lobo-guará seja um dos ancestrais do fila brasileiro, porque apesar de
comprovado que o lobo-cinzento (Canis lupus)
pode gerar descendentes sadios ao cruzar com cães, existindo até algumas raças
caninas originárias desta mistura, como o cão lobo checoslovaco, esta comprovação cientifica ainda
não foi feita por parte do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que apesar de
ser um canídeo, sequer é uma sub-espécie do Canis lupus, é uma espécie
extremamente diferente geneticamente do lobo-cinzento, ao ponto de até ser
questionado se é realmente um lobo por alguns especialistas.
6ª - Cão de Castro Laboreiro - Cão de Gado Transmontano - Rafeiro do
Alentejo - bully Kutta - Mastim Espanhol - Cão de Santo Humberto
Diz que o fila brasileiro descenda
diretamente de seis raças caninas, o cão
de gado transmontano, cão de Castro Laboreiro, rafeiro do Alentejo, Bully Kutta, cão de Santo Humberto e o mastim espanhol.
Esta hipótese é do ponto de
vista histórico do Brasil, a mais plausível. Durante o Século XVI, praticamente
o único fluxo de navios que chegavam ao Brasil era proveniente de Portugal, e
não havia elevado intercâmbio cultural e econômico entre as nações europeias
que justificasse a presença massiva de raças caninas estrangeiras em Portugal.
Partindo deste princípio
deduzimos que os primeiros molossos a chegar no Brasil tinham necessariamente a
origem em Portugal. Os molossos portugueses Cão de Castro Laboreiro, Cão de
Gado Transmontano e Rafeiro do Alentejo tem aptidões de trabalho idênticas ao
fila brasileiro, especialistas em proteger rebanhos de predadores e
salteadores, além de um tipo físico bastante semelhante, por isso não nos resta
dúvida de que a ancestralidade mais distante do fila brasileiro é oriunda
destas três raças.
Mais do que a coragem e
instinto de proteção de propriedades rurais, os atuais cães de fila brasileiro
herdaram destes primeiros molossos por forjados na labuta da selva algumas
características físicas bem marcantes, a cor preta sólida e o tigrado escuro,
tão contestados por alguns criadores é herança do cão de Castro Laboreiro. As
luvas e o colar branco são herança do cão de gado transmontano e do rafeiro do
Alentejo, assim como um tom de tigrado que já foi muito comum na raça em
décadas passadas. E a cor branco malhado que está extinta no fila brasileiro é
muito comum nestas duas raças portuguesas, o CAFIB (Clube de Aprimoramento do
Fila Brasileiro) aceita em seu padrão racial a cor branco com malhas baias ou
rajadas pois já houve filas puros assim no passado, já a CBKC (Confederação
Brasileira de Cinofilia) não aceita tal cor.
Também herdou das raças
portuguesas uma peculiar característica, a agilidade, qualidade que não é comum
entre os molossos de tal porte, além de garupa mais alta que a cernelha, e
dimorfismo evidente, com isto havendo grandes diferenças de tamanho entre
machos e fêmeas.
Outro molosso com grande
contribuição genética no fila brasileiro é a raça indo-paquistanesa sindh
mastiff, também conhecida como bully kutta,
desde o século XVI, após descobrir a rota comercial marítima para a Índia, no
retorno da viagem, os navios portugueses quase sempre passavam pela colônia do
Brasil, para abastecer o navio com pau-Brasil, água potável e suprimentos que
os permitisse voltar a Portugal.
Cão muito popular na Índia, o sindh mastiff foi levado por marinheiros
portugueses em suas viagens até o Brasil, cão muito feroz e que já foi
utilizado pelo Império Persa em suas campanhas militares, era muito apreciado
pelos senhores de engenho e bandeirantes brasileiros ao se embrenharem na mata para
combater e capturar indígenas. pois não haviam cães molossos nas novas terras
descobertas na América, do sindh mastiff o fila brasileiro herdou o
temperamento bravio e um fenótipo muito semelhante.
Em território brasileiro estas raças
começavam a participar de um processo antigo e gradual de formação do fila
brasileiro, os cães mais ferozes nas tarefas de cão de guerra nos ataques a
indígenas e quilombolas e no combate às onças para proteger estes homens de
vida muito rústica, eram acasalados para se obter filhotes com as mesmas
qualidades, os rafeiros do Alentejo, cães de Castro Laboreiro, de gado
transmontano, sindh mastiff e principalmente as gerações mestiças posteriores
adaptadas às árduas condições de vida dos bandeirantes nas selvas brasileiras durante
o Século XVI, foram o embrião, o estágio inicial da raça Fila brasileiro.
Outra raça que também contribuiu
claramente na formação do Fila brasileiro foi cão de Santo Humberto, por ter
herdado deste um faro excepcional e um fenótipo extremamente semelhante, mas
como esta raça belga originária das colinas Ardenas teria chegado ao Brasil
ainda durante os primeiros séculos de colonização?
O cão de Santo Humberto sempre foi
muito popular na região das colinas Ardenas pela sua impressionante capacidade
olfativa nas caçadas, esta região é de fronteira entre três países, Bélgica, Luxemburgo
e França, sendo este último país um grande formador e apreciador de raças de
faro, a fama de hábil caçador do Cão de Santo Humberto chegou a ultrapassar as
fronteiras destes três países ainda no Século XI, e chegou a Inglaterra quando
Guillaume O Conquistador, levou estes cães para o país britânico, sendo lá
chamado de bloodhound, ou cão de sangue.
Famoso por sua habilidade de faro na
região das Ardenas, os militares franceses utilizaram o cão de Santo Humberto
em suas incursões fora da Europa, assim como hoje em dia a raça é muito
utilizada por instituições policiais e de bombeiros mundo afora. A França
tentou seguidamente invadir e colonizar sem êxito o território brasileiro por
várias oportunidades durante o Século XVI até ao Século XIX, chegando no Rio de
Janeiro em 1555 e somente sendo definitivamente derrotados em 1567. Várias
esquadras francesas também aportavam com freqüência no litoral da Paraíba ao
Ceará, sobretudo no Rio Grande do Norte para negociar pau-brasil com índios
potiguares, e atacavam as embarcações que vinham de Portugal e navegavam por
lá. Entre 1594 os franceses invadiram e colonizaram a cidade de São Luís no
Maranhão, a sua mais duradoura tentativa de invasão, quando foram derrotados
somente em 1615 por tropas luso-brasileiras.
Posteriormente a isto, mais alguns
ataques frustrados ao território brasileiro aconteceram, como em Fernando de
Noronha em 1700, no Rio de Janeiro em 1710 e 1711 (este com êxito), quando mais
de cinco mil franceses atacaram a cidade, e ao Amapá em 1895, quando a França
ocupou militarmente cerca de 260.000 km², devolvendo-os ao Brasil
posteriormente após julgamento em corte internacional. Após todas estas
tentativas de ocupação do território brasileiro pela França, é natural e único
fato histórico que explica como uma raça franco-belga possa ter entrado no
Brasil ainda no Século XVI e ajudado na formação do nosso Fila brasileiro.
Os filas que carregavam os genes do
cão de Santo Humberto eram os melhores farejadores, e esta qualidade se tornou
primordial para a perpetuação desta característica e consequentemente das
demais características físicas do cão de Santo Humberto no fila brasileiro, já
que os melhores farejadores eram muito apreciados por capitães-do-mato quando
saíam no encalço de escravos indígenas ou africanos fugitivos, e esta atividade
era primordial ao sucesso econômico dos primeiros integrantes da elite da
sociedade luso-brasileira daquela época, os senhores de engenho, porque era
mais barato recapturar um escravo fugitivo do que comprar outro junto aos
mercadores de escravos. Com isso, lucravam mais os capitães-do-mato que
possuíam filas ferozes e rústicos para encarar a selva e seus perigos, mas
principalmente os que também possuíam um bom faro, habilidade principal para
conseguir recapturar os escravos fugitivos. Assim os genes do cão de Santo
Humberto também se perpetuaram na formação do Fila brasileiro, e hoje em dia é
possível notar grande semelhança física entre as raças, especialmente em
algumas características como barbela, cabeça e orelhas, sendo estas últimas um
pouco maiores no cão de Santo Humberto.
Também é importante salientar a
participação da raça Mastim Espanhol no processo de formação do Fila
brasileiro, ambas as raças são fisicamente muito semelhantes, sendo a cabeça, a
barbela e o corpo robusto as característica mais parecidas, além de um
temperamento bravio e a cor baio sendo a mais comum em ambas. Durante a época
da União Ibérica, que durou de 1580 a 1640, com os portos brasileiros abertos
aos navios espanhóis, assim como também abertas as fronteiras com as colônias
espanholas vizinhas, os mastins espanhóis teriam chegado em massa ao Brasil,
exímios protetores de rebanhos que vinham trabalhar com gado, trazidos por
colonos espanhóis e que também foram levados as colônias espanholas vizinhas
pelo Exército Espanhol para o combate à indígenas e separatistas. A Guerra
Guaranítica, onde tropas do Exército Espanhol adentraram no sul do Brasil, é
outro fato histórico que pode ter contribuído com a chegada do mastim espanhol
ao território brasileiro. Os mastins espanhóis pela sua robustez, temperamento
bravio e principalmente pelo sucesso no uso por tropas espanholas em suas
colônias, pode ter sido amplamente utilizado quando bandeirantes e tropas do
governo resolviam atacar os quilombos, contribuindo assim também com seus genes
ao cão de fila brasileiro.
Já a partir do Século XVIII, o mix de
genes formador do Fila brasileiro já estava por assim dizer terminado, e os
tropeiros, que levavam rebanhos e mercadorias rurais do interior do território
brasileiro aos grandes centros urbanos, foram os responsáveis por disseminar e
popularizar a raça pelo país, já que os filas eram ferramentas indispensáveis
na proteção das comitivas, e "produtos" cobiçados por fazendeiros
criadores de gado, para garantir a segurança das propriedades rurais e seus
rebanhos.
Características.
Físicas.
Uma de suas características físicas
mais marcantes, e que chegam a identificar a raça frente ao público em geral,
certamente é o seu tamanho, filas machos podem atingir até 75 centímetros
na cernelha (encontro entre
pescoço e costas), uma das maiores raças caninas, apesar de existirem outras
mais altas, também é um gigante entre os cães quando medido o comprimento da
ponta do peitoral até o final do dorso, e tem uma das maiores e mais pesadas
cabeças entre as raças caninas, características dos molossos, mas o que verdadeiramente reforça a
impressão de grande porte, é a sua estrutura física com uma impressionante
massa muscular, os machos pesam em torno de 70 kg, havendo vários
exemplares que ultrapassam esta faixa de peso, apenas a nível de comparação, a
maioria dos exemplares da raça pit bull, com sua impressionante musculatura,
não passam dos 28 kg. Muitos criadores de fila brasileiro, são unânimes ao
afirmar que a raça tem uma característica singular entre as raças de grande
porte, atingem em galope uma velocidade insuspeita para cães de tal
tamanho, esta velocidade aliada ao seu porte dão ao fila brasileiro um dos
mais potentes ataques entre as raças de cães, podendo derrubar um homem com um
mínimo de esforço, sua velocidade, inclusive o auxilia a superar obstáculos de
até dois metros de altura com certa facilidade. Quando está andando, sua
movimentação lembra à dos felinos, movimentando os dois membros do mesmo lado
do corpo ao mesmo tempo, o que lhe dá movimentos muito largos, a sua
movimentação é influenciada pelas suas articulações de molosso, o que lhe
permite rápidas mudanças de direção.
Cores.
Atualmente, os filas brancos ou
brancos e malhados são considerados impuros, porém no passado, já houve filas
brancos ou malhados considerados puros e inclusive sendo campeões de exposições
caninas e usados na caça. Atualmente, brancos, malhados (branco com manchas
escuras, pretos com canela (tricolores) e azuis (cinzas) são fora do padrão,[5] as cores
permitidas são todas as cores sólidas ou tigrados com fundo nas cores sólidas,
desde os pouco rajados ou fortemente rajados, com ou sem máscara preta, podendo
ou não ter marcações brancas nas patas, peitoral e na ponta da cauda,[5] é comum
marcações brancas no pescoço, quando o cão também tem marcações brancas no
peitoral, com isto formando um colar, porém são indesejáveis, assim como demais
marcações brancas no restante da pelagem (com exceção de peito, patas e ponta
da cauda).
Na prática, os filas brasileiros são
de três cores, e em todas as suas variedades, a mais comum é a cor dourada ou
amarelada em todas as suas tonalidades, desde os cremes, passando pelos tons de
amarelo até chegar nos castanhos ou avermelhados, como cor de barro, em vários
tons; Tigrado/ rajado, esta cor pode ou não ser rajado com pouca ou
muita intensidade, com raias finas ou grossas, e os rajados podem ser claros ou
escuros, passando por todas as variações. E em menor escala, temos os filas de
cor preta.
Psíquicas.
O fila brasileiro possui um dos
temperamentos mais paradoxos do reino canino, primeiro porque possui uma
característica praticamente única entre todas as raças caninas, e que inclusive
está descrita em seu padrão oficial, a aversão à estranhos, na prática, esta
característica impede que o animal seja enganado por um conhecido mal intencionado,
já que a grande maioria dos filas brasileiros não aceita a visita de pessoas de
fora da família em seus domínios, mesmo que acompanhado pelo seu dono, esta
característica é única entre todas as raças reconhecidas pela Federação Cinológica Internacional, e devido a isto,
em exposições de beleza, o fila brasileiro é a única raça que impede o contato
físico com o juiz cinófilo, e atualmente não é mais penalizado por isto porque
os juízes tem ciência que tal característica é prevista no seu padrão rácico.
Por outro lado, é proverbial a sua
fidelidade ao dono e aos membros de sua família, procurando com insistência a
companhia de seu dono, como um gigante carente, e é muito grande a sua
tolerância com as crianças da família, geralmente deixando os pequenos até
mexerem em sua vasilha de ração. Por ter um comportamento avesso à estranhos,
se torna um cão muito fiel aos de sua convivência.
Aptidões para o trabalho.
Suas habilidades para o trabalho
também são marcantes, além de sua pré-disposição natural para a guarda, inclusive
sem precisar de adestramento para isto, o fila brasileiro, por seu porte,
agressividade quando necessária, e principalmente pela sua coragem, já que não
recuam diante de tiros e bombas, . é ideal para tropas de choque
policiais, que tem a missão de acabar com distúrbios causados por multidões
enfurecidas, e devido a esta ultima característica, também é utilizado por
tropas de combate das forças armadas. Por descender do cão de Santo Humberto, famoso cão farejador britânico, o fila brasileiro
possui um faro apuradíssimo, que inclusive, em séculos passados, já foi
utilizado por capitães-do-mato para recapturar escravos fugitivos.[3] Na área rural
é onde tem excelente destaque, onde nos primórdios foi usado para caçar onças
que ameaçavam as mulas e o gado das comitivas dos bandeirantes[3] e até hoje
protege rebanhos de gado contra ataques de onças e ladrões nas áreas rurais
brasileiras, inclusive também desempenhando papel de cão boiadeiro, trabalhando
para reunir o gado e acompanhando as comitivas quando necessário, e inclusive
devido a esta aptidão, foi chamado durante séculos de boiadeiro, entre as
atividades de um cão boiadeiro, enumeram-se o pastoreio e a guarda dos
rebanhos, desempenha bem as duas funções, mas sua especialidade certamente é a
guarda dos rebanhos, seja no pasto, nas comitivas ou no curral, e realiza
também a proteção das sedes das fazendas, enfim, sua principal característica
no campo é a guarda.
Forças armadas e policiais
O Exército Brasileiro e o Exército Israelense realizaram,
separadamente, testes e estudos com diversas raças para escolherem o cão mais
apto ao trabalho de cão de guerra (muito mais complexo do que o trabalho
do cão policial). Estas organizações chegaram a conclusão de que o fila brasileiro é a
melhor raça de cão para as forças armadas.
O Exército Brasileiro, através de seu
reconhecido internacionalmente CIGS - Centro de Instrução de Guerra na
Selva, realizou testes durante 5 anos com cães das raças doberman, pastor alemão e o próprio
fila brasileiro, levando estas raças a situações extremas, próximas de um real
conflito na selva. Chegaram à conclusão que o fila brasileiro é a raça mais apta ao
trabalho na selva. Os estudos apontaram que o fila brasileiro teve melhor
adaptabilidade às condições inóspitas da floresta amazônica e em ambiente hostil. Teve melhor desempenho
na maioria das qualidades testadas, como olfato, resistência, força, coragem,
silêncio, entre outras características. O Exército Israelense fez testes
semelhantes em campos de treinamento em Israel, mas em um período
menor e com um número muito maior de raças, e também elegeram o fila brasileiro
como a melhor raça para a guerra moderna. Segundo o relatório, a característica
mais marcante da raça é a coragem, pois não recuam diante do barulho das bombas
e dos tiros.
No Brasil é uma das raças oficialmente
utilizadas pelo Exército Brasileiro, onde, além de seu uso pelo Comando Militar da Amazônia, é também usado
como cão de guerra pára-quedista pela Brigada de Operações Especiais. Tem também
destaque como cão farejador ou cão de tropa de choque na polícia do exército, porém, seu uso
por outras forças policiais ou pelos corpos de bombeiros militares ainda é muito
restrito.
No exterior, é amplamente utilizado
por várias organizações policiais estadunidenses, inclusive a K9, e também é muito comum o seu uso por agentes penitenciários de
presídios de segurança máxima dos Estados Unidos. Também é sabido
de seu uso por forças de segurança do Peru, Nigéria, Israel, eChile.
Perfil clínico
Algumas doenças podem acometer esta
raça devido a seu porte. São elas:
·
Displasia coxo-femural
Alteração física de caráter
hereditário na articulação entre o fêmur e a bacia do cão, que causa problemas
de locomoção, dor e incômodo ao animal. Afeta alguns indivíduos da maioria das
raças de grande porte, observar se os pais são saudáveis é um bom meio de
adquirir filhotes que não venham futuramente a ser portadores de displasia coxo-femural,
já que se trata de uma doença genética.
·
Torção gástrica
Afeta alguns indivíduos da maioria
das raças de grande porte, caracteriza-se pela torção do estômago, causando
compressão da circulação na região abdominal. Pode levar à morte, se o cão não
for operado o mais rápido possível. Dividir a ração em pelo menos duas porções
diárias minimiza muito as chances de o cão ser acometido pela torção gástrica.
Estes males não chegam a ser
considerados endêmicos na raça.
No mais é uma raça rústica e
saudável, já que seu desenvolvimento se deu naturalmente, apenas puderam perpetuar
o sangue da raça os exemplares mais fortes e aptos à auxiliar seus
proprietários nas diversas tarefas rurais de que foram encarregados durante os
séculos de seu desenvolvimento, com isto adquiriram genes de resistência que
tornam a raça bastante saudável.
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